terça-feira, 25 de abril de 2017

Dia de Tiradentes - 21 de Abril de 2017

 Excelentíssimo Senhor Doutor Baldonedo Arthur Napoleão, criador e Coordenador da Cavalgada da Inconfidência; autoridades presentes; presidente e membros da ALSJDR; Venerável Mestre e Membros da Loja Maçônica Cháritas II; Diretores; Professores e Alunos das Escolas presentes; Diretora, Professoras e Alunos da Escola Caminho do Sol; Amazonas; Cavaleiros; Senhoras Senhores


29ª Cavalgada da Inconfidência - de Tiradentes até São João d’El-Rei - MG


 Em fins do século XVIII as ideias Iluministas grassavam mundo afora e fervilhavam principalmente em Paris, onde os iluministas procuravam esbater, com vigor, os resquícios dos séculos perdidos da idade média, quando os monarcas, particularmente os absolutistas, agasalhados sob os mantos da ideia de que eram coroados pelo poder divino, se sentiam os donos do mundo.

Portugal não fugia à regra e mantinha suas ricas colônias sob despótico poder, governadas por prepostos do rei, sempre cruéis e quase sempre corruptos; eram os denominados vice-reis que mantinham o povo na mais absoluta servidão e vivendo em extrema pobreza.

No Brasil esta situação então era a mais cruel possível, sobretudo nas Minas Gerais, onde as pedras preciosas eram, inclusive, catadas à flor da terra. A cupidez tornava o Reino mais cruel e o povo mais pobre e submisso. Em Minas, aos olhos portugueses, parecia que a riqueza mineral não teria fim. 


Portugal nada produzia e com uma nobreza ociosa e, em sua maioria inculta, mas com pretensões de ser equivalente a sua congênere francesa, adquiria toda espécie de bugigangas em Londres, pagando com o ouro arrancado das entranhas de Minas Gerais, de onde extraia toda a riqueza e só deixava buracos. As caravelas recebiam o ouro, muitas vezes, diretamente dos lombos das mulas que chegavam das Minas, ali em Porto Estrela, ao norte da baia da Guanabara ou em Paraty e a riqueza, às vezes, nem era desembarcada em Portugal, ia diretamente para Londres. Os verdadeiros governantes de Portugal eram os prepostos de Sua Majestade, o Rei Inglês. Os nobres portugueses se satisfaziam tão somente em ostentarem muito luxo e empáfia, usando bens que adquiriam dos ingleses.

Contentavam-se simplesmente em explorar da maneira mais vil possível as riquezas do Brasil, particularmente as que arrancavam do rico solo de Minas Gerais.

Era uma servidão mais brutal do que a que fora imposta aos habitantes do velho mundo quando este regime de trabalho era o adotado pelas chamadas monarquias de Direito Divino, que de divino nada tinham e que mergulharam a Europa em seculares e tenebrosos tempos da mais absoluta ignorância.


Mas a alvorada das luzes raiou deslumbrante nos horizontes da cultura, mormente em Paris e o Iluminismo, com inusitado vigor, começou a arejar o mundo e, graças a isto, as peias das monarquias de poder divino (que de divino nada tinham) começaram a ruir mundo afora.

 Nesta época estudantes brasileiros, que frequentavam as universidades europeias, sobretudo as de Coimbra e Montpellier, entravam em contato com os novos ideais que campeavam mundo afora e iam derrubando as velhas concepções políticas e econômicas.

E, em consequência disto, estes estudantes, quando voltavam ao Brasil traziam as ideias iluministas e as difundiam entre nossa gente.


Assim, o Alferes Joaquim José da Silva Xavier – O Tiradentes – homem dotado de rara inteligência, que já vislumbrava um futuro fulgurante para o Brasil e que fazia da Independência dos Estados Unidos da América, o modelo certo para a Independência do Brasil, se viu, em contato com José Álvares Maciel, jovem mineiro que voltava da Europa, aonde fora estudar e entrara em contato com iluministas e maçons e ficara convicto de que o Brasil podia se tornar independente. Tiradentes a ele se juntou, eis que tinham os mesmos ideais, e tomou a liderança do movimento independentista.

Muitas reuniões secretas foram então realizadas, em fins do Século XVIII e nelas sempre sobressaia a figura de Tiradentes, eis que todos os outros, magistrados, altos funcionários da administração, militares, clérigos, poetas, comerciantes, artífices, mineradores e fazendeiros se mostravam comprometidos com a conjuração, mas nenhum saía das salas das reuniões e se punha a difundir os ideais de uma pátria livre e a arregimentar homens que pudessem ir à luta, em defesa de seus ideais. Só Tiradentes fazia isto, não porque era um louco, como quiseram fazer crer alguns de nossos historiadores, que sempre estiveram atrelados às concepções do “politicamente correto” e que foram ditadas por Lisboa, mas porque era realmente um patriota corajoso.

Na verdade, o que havia era o preparo para uma Conjuração Brasileira já que tínhamos revoltosos na Bahia, Goiás, Mato Grosso, Rio de Janeiro, São Paulo, quiçá em Pernambuco, e não somente em Minas. Estrategicamente os Conjurados tinham escolhido Minas Gerais como centro da revolta porque aqui é que se daria a cruel DERRAMA, que empobreceria mais a já sacrificada população da mais importante Capitania do Brasil. No dia em que tivesse início a derrama o povo mineiro fatalmente se rebelaria e Minas se levantaria em armas e os Dragões, tropa paga a que pertencia Tiradentes, prenderiam o Governador e Tiradentes se destacaria como o grande chefe da Conjuração, mesmo porque só ele teria coragem para tanto.

O Alferes Joaquim José da Silva Xavier – O Tiradentes – a quem hoje aqui homenageamos como nosso principal herói não era, como apregoam até hoje seus detratores e historiadores, pobre e inculto, não, não o era. Quem conhece a Fazenda do Pombal e ali vê a grandeza das ruínas de uma simples serventia daquela propriedade que era de seu pai e onde ele nasceu, se espanta e vê logo que se tratava de uma grande fazenda. E por isto, logo se conclui: Tiradentes nasceu em uma família rica, sem dúvida. Basta dizer que, naquela época, só as famílias de grandes posses tinham filhos padres; este privilégio não chegava às famílias pobres, nunca, e Tiradentes, pasmemos, tinha dois irmãos padres.

Ademais, é preciso dizer que Tiradentes além de ser um oficial no Regimento de Cavalaria Paga – os Dragões – era dono de uma farmácia perto da Ponte do Rosário, em Vila Rica e proprietário de rica fazenda, possivelmente a fazenda de Porto dos Menezes, em Paraibuna, hoje Comendador Levy Gasparian/RJ, bem perto da Corte. É evidente que uma fazenda nas proximidades da Corte tinha elevado valor. Então por que teimam em dizer que ele era pobre e que por isto foi enforcado? Esta é uma visão caolha de nossos historiadores, sempre “politicamente corretos”.


Também não era, como dizem alguns historiadores mal informados ou mal intencionados, um homem inculto já que ele sempre trazia consigo, um exemplar da Constituição dos Estados Unidos da América, editada em francês, a qual ele sempre lia e comentava nos pousos que havia no Caminho Novo; por este detalhe vê-se que ele sabia, é evidente, o idioma francês, quiçá, o inglês. Em sua farmácia em Vila Rica, foram apreendidos vários livros, principalmente sobre medicina, e, como sabemos, não havia imprensa no Brasil; os livros eram importados e obras científicas, todas, só eram editadas em Latim. Logo, isto é silogístico, ele sabia o idioma latino.

Então ele não foi executado por ser pobre e nem por ser inculto, esta afirmativa é feita por brasileiros mal intencionados, ou mal informados, que dançam conforme a música dos ideais “politicamente corretos”, executada pelas autoridades portuguesas e que até hoje, em certo sentido, ainda atropela a verdade.

Só poderemos entender a personalidade de Tiradentes se formos - politicamente incorretos - porque só assim faremos a leitura de sua odisseia, lendo nas entrelinhas da historiografia pertinente.

 Naquela época, como até hoje, os homens só eram respeitados, pelo perigo que representavam para alguém e não pelo seu valor intrínseco. Tiradentes, de todos os conjurados, era o único que o Reino Português realmente temia. Era ilustrado e destemido. Ai deve estar, inclusive, a explicação para que sua carreira militar não tenha sido bem sucedida. Ele era um homem que por sua atitude e coragem representava sérios perigos para o reino português.

E assim transcorria o ano de 1789, o mesmo ano da Revolução Francesa e da emblemática tomada da Bastilha. Isto, é evidente, pôs o reino de Portugal alerta pois não era mera coincidência a insurreição no Brasil, a partir de Minas Gerais e a já referida Revolução Francesa, acontecerem ao mesmo tempo.

Se Portugal fosse combater a Conjuração Brasileira, com o rigor que julgava necessário, isto repercutiria mundo afora e, certamente, algumas nações, sobretudo, França, Inglaterra e Estados Unidos reconheceriam, de pronto, o novo Estado chamado Brasil e Portugal perderia sua rica colônia. Que fizeram os portugueses? Habilmente trataram o movimento independentista brasileiro como uma simples rebelião de maus pagadores de impostos e lhe deram o nome de Inconfidência Mineira. Decidiram que poucos seriam os acusados, para que o mundo não percebesse que era um movimento independentista, com fincas no iluminismo. E assim foi feito. E desde o princípio algumas figuras incômodas como Tiradentes e Tomaz Antônio Gonzaga foram marcadas para serem punidas e banidas da vida pública brasileira. Tiradentes seria condenado “à morte natural na forca”, como dizia a sentença condenatória, porque, reconheciam as autoridades reinóis, era mesmo um homem perigoso.

E assim a Conjuração foi transformada em simples Inconfidência e seus membros (só alguns líderes) condenados. Dos onze condenados à morte, sete eram daqui, da Comarca do Rio das Mortes, ou seja, de São João d’El-Rey. O que prova, à exaustão, a importância de nossa terra no movimento revolucionário.

 Eis que afinal chegou o dia 21 de abril de 1792, a data da execução de Tiradentes.

Às oito horas da manhã os clarins ecoaram seus acordes anunciando que tinha início a solenidade e uma enorme procissão se pôs em marcha, composta por militares engalanados, cavalos bem ajaezados e muitos religiosos, seguidos de uma carroça própria, onde seriam recolhidos os restos mortais do condenado; à frente do cortejo desfilava a Irmandade da Misericórdia. A procissão, ao toque surdo e sincopado dos tambores, em funeral, caminhava devagar para aumentar a curiosidade popular e causar maior terror. Ao fim do cortejo desfilava um Esquadrão de Cavalaria para dar mais pompa ao tétrico espetáculo. As janelas das casas estavam apinhadas de mulheres que queriam ver o desfile.

Tiradentes, com as mãos amarradas por uma corda, o baraço, cuja ponta era empunhada pelo carrasco, se mostrava impávido, colosso, o peito saliente, a cabeça erguida e olhar firme. Nada temia. O cortejo enveredava por ruas que aumentavam o percurso e davam maior exposição à solenidade, como queriam as autoridades, no intuito de tornar mais evidente o cruel poder real.

Quando a funérea procissão chegou ao Largo da Carioca e Campo da Lampadosa, Tiradentes num passo firme, a cabeça erguida e com os olhos fitos ao longe, como que a vislumbrar o futuro brilhante da pátria, subiu sem titubear a imensa escada (tinha vinte e quatro degraus) que dava acesso ao piso do cadafalso e não mostrava nenhum sinal de medo. Era verdadeiramente um herói que se doava à pátria.

Durante a caminhada do estranho séquito, alguns frades, em alguns pontos pré-determinados e para aumentar o aspecto solene e aterrorizador que queriam dar, proclamavam, em altas vozes, em uníssono:

 - “Justiça que faz Sua Majestade a Rainha, no infame réu Joaquim José da Silva Xavier por alcunha o Tiradentes.” E o povo ululava, induzido por áulicos da corte que instigavam a claque.

Finalmente Tiradentes diz ao carrasco:
 - “Escuta, amigo, termina depressa seu trabalho”.

E após muita demora, como era a intenção das autoridades, foi proferido um longo sermão pelo padre José Jesus Maria do Desterro que, ao lado de Tiradentes e virado para a multidão, cobria de impropérios e maldições o condenado e a todos que ousassem se levantar contra as autoridades portuguesas.

Após este sermão, cheio de maldições contra o condenado, o carrasco passou a corda no pescoço de Tiradentes e ai este, calmo, com a voz firme, proferiu suas últimas palavras, segundo Oleg Ignatiev, jornalista e historiador russo: - “Oh! Pátria! Recebe meu sacrifício.”

 O carrasco acionou uma alavanca, abriu-se um alçapão no piso do cadafalso sobre o qual Tiradentes estava em pé e seu corpo balançou no vazio. Tiradentes estertorou, mas não morreu logo, por isto o carrasco subiu-lhe aos ombros, agarrado à corda da forca para aumentar a pressão do laço em seu pescoço, frustrando, diabolicamente, a ação salvadora da Irmandade da Misericórdia. Estava consumada a execução. O povo ululou em uníssono, porém seus brados foram cobertos pelos sons dos clarins.

Eram exatamente, como marcavam os ponteiros do relógio da igreja próxima, onze horas e vinte minutos. Trinta anos após o enforcamento de Tiradentes, o Brasil proclamou sua Independência. Mas a história não foi como nossos historiadores contam: nunca houve o teatral grito do Ipiranga e nem o Príncipe Regente gritou “laços fora”. Inclusive porque, na realidade, o Brasil “comprou” sua independência pagando a Portugal uma “indenização” em milhares de libras esterlinas. Tudo transcorreu em trâmites estritamente burocráticos e inventaram, ou teatralizaram, o enredo que até hoje é impingido aos nossos estudantes. Pura e imaginosa alegoria.

E Tiradentes, mesmo com a Independência, continuou esquecido maldosamente.

Mas eis que veio o Segundo Império, governado afinal, por um Imperador brasileiro, liberal e culto, porém doente, o que acabou por ensejar a proclamação da República.

E assim, afinal, noventa e sete anos após o enforcamento de Tiradentes foi proclamada a República, e o tão sonhado ideal dos conjurados e particularmente de Tiradentes, se tornou realidade. E com a República o nome de Tiradentes foi reabilitado e ele foi reconhecido como o nosso herói. Afinal o Brasil tinha o seu herói, o Alferes Joaquim José da Silva Xavier – O Tiradentes.

 Contudo, Tiradentes, equivocadamente, foi declarado Mártir da Independência.

 Oh! Meu Deus!, Que absurdo é este! Quem precisa de mártir é Igreja, Pátria precisa é de herói! E é assim que devemos considerar e venerar Tiradentes, o nosso Herói, e Herói como ele no mundo não há maior.

 E hoje quando aqui estamos para rendermos nossas homenagens ao nosso Herói maior não podemos nos esquecer que ele sonhou com a República, mas certamente não era a República na qual vivemos hoje, cheia de mazelas e com a corrupção grassando qual peste que avilta o sonho dos conjurados brasileiros.

 Meus amigos, meus conterrâneos, brasileiros que aqui estão, sobretudo as amazonas e os cavaleiros que vêm prestar sua homenagem a Tiradentes, da maneira que mais lhe agradaria, certamente, porque cavaleiro ele sempre foi; ao ser preso, inclusive, ele era Alferes em um Regimento de Cavalaria, O Regimento de Cavalaria Paga, aquartelado em Cachoeira do Campo, ao norte de Vila Rica, o famoso Regimento dos Dragões. Veneremos pois, com muito amor, a memória de Nosso Herói Maior: Tiradentes. 

Por oportuno, é válido que se diga que a palavra alferes deriva do árabe “al-faris”, que significa exatamente cavaleiro, como nos informa nosso confrade José Antônio de Ávila Sacramento. E, em assim sendo, se dissermos Cavaleiro Tiradentes, ao invés de Alferes Tiradentes, não estaremos cometendo nenhum equívoco. Alferes, Cavaleiro é. Portanto, todos vocês, cavaleiros e amazonas que participam desta Cavalgada da Inconfidência, são alferes, tanto quanto o herói Tiradentes, que ora homenageamos.


 Finalmente, senhoras e senhores, vamos nos dirigir ao nosso glorioso Alferes, o Tiradentes - e o fazemos assim:


 Tiradentes! Oh imortal Herói brasileiro! Volte à terra, venha ao Brasil e em aqui estando volva à nossa São João d’El-Rey, encilhe, monte e cavalgue seu “machinho rosilho”; empunhe sua espada, ponha-se a nossa frente e sob seu destemido comando, quando o corvo negro da corrupção, que sobrevoa e enxovalha o Brasil, tentar pousar sobre nossos lares, matemo-lo, antes que ele ocupe o pedestal da honra nacional!

 Alair Coêlho de Resende São João d’El-Rey, av. Presidente Tancredo Neves (monumento a Tiradentes), 21 de abril de 2017.